Jornalismo independente nordestino pede socorro!🚨

Oi, tudo joia?

Vem cá, tu já parou para pensar em quem produz a notícia que chega até você? A gente adora falar do crescimento do jornalismo independente. E não é só pelos números ou pelas pesquisas que mostram a diminuição de desertos de notícias a cada ano, mas porque, na prática, a gente vê mesmo a diferença que faz ter informação de qualidade, checada e bem apurada chegando à população.

Mas e se a gente olhar mais de perto, de pertinho mesmo? Ver as pessoas por trás dessas iniciativas, entender o contexto em que elas nascem e o tanto de esforço que existe pra manter tudo de pé? Eu, Marco Ferro, conversei com representantes do Coar Notícias (PI), Eufêmea (AL) e As Cunhãs (CE) sobre os desafios para sustentar um veículo independente hoje.

E, nós, da Cajueira, também sabemos bem o que é resistir com um projeto que não tem financiamento. Por isso sempre estamos aqui pedindo ajuda de quem nos segue.

Então, se você gosta dos nossos conteúdos, ajude a gente a continuar com esse trabalho contribuindo com a campanha Plantio, com assinatura a partir de R$ 10 mensal, e/ou enviando um pix de qualquer valor para cajueira.ne@gmail.com.

O que significa ser um veículo independente?

O jornalismo independente tem liberdade para escolher pauta, para escutar quem a mídia tradicional muitas vezes ignora, sem amarra de patrocinador, sem editor mandando cortar porque “não vende”, sem a pressão de agradar quem financia. É poder olhar para o próprio território e decidir: essa história precisa ser contada.

Parece legal, né? Mas essa liberdade pesa. Hoje a maior parte dos veículos independentes nordestinos opera com equipes reduzidas, muitas vezes de até três pessoas, acumulando apuração, edição, redes sociais, design, comercial… tudo ao mesmo tempo. E isso cobra um preço: cansaço, falta de estrutura, e até mesmo burnout. É a repórter de bicicleta atravessando a cidade para cobrir um protesto, o editor revisando pauta de madrugada, o esforço diário para seguir produzindo mesmo quando o mês aperta e a conta não fecha.

Quem resiste e quem teve que parar

O nosso Mapa Cajueira, lançado em 2023, já mapeou mais de 110 iniciativas de jornalismo independente no Nordeste. Desde 2020, vimos muita gente criando, se reinventando e tentando ocupar os vazios de cobertura deixados pela mídia comercial. Mas também vimos outros tantos tendo que fechar as portas. Cerca de 15 veículos (considerando site, blog e revista) foram descontinuados ou estão sem atualização há mais de seis meses, conforme o nosso levantamento.

Há também os que persistem e encontram um jeito de seguir. A maioria recorre a microfinanciamento e doações recorrentes da audiência como principal fonte de receita, seja por meio de plataformas de crowdfunding, programas de assinaturas mensais ou campanhas periódicas de apoio direto.

Conheça essa realidade

Esta edição da newsletter, portanto, será focada nos depoimentos das jornalistas de coletivos que conhecem essa peleja de perto. Coar Notícias (PI), Eufêmea (AL) e As Cunhãs (CE) são iniciativas que a gente admira e que, assim como a Cajueira, são encabeçadas por mulheres.

O convite já vem de antemão: se você lê, se você se informa por meio desses veículos, ajude-os a continuar existindo. Compartilha, assina, apoia do jeito que der. Porque sem essa rede de apoio, muitas dessas iniciativas podem desaparecer.

A gente segue firme e juntos.

Sirva-se.


Coar Notícias: resistir custa muito

No começo deste mês, a Coar Notícias anunciou o encerramento das atividades após seis anos de trabalho. A decisão, porém, foi repensada, e o veículo segue em sua missão, agora em passos mais curtos. Primeira iniciativa jornalística no Brasil a atuar com letramento midiático por meio da linguagem regional em desertos de notícias, a Coar tem rodado escolas e espaços para falar sobre a importância da checagem de informações.

“Se as pessoas soubessem como foram os bastidores, quantas vezes eu e outras pessoas ficávamos até de madrugada, quatro, cinco horas da manhã, entenderiam por que é tão difícil”, conta Marta Alencar, líder do projeto.

Durante seis anos, Marta tirou dinheiro do próprio bolso para manter tudo funcionando e pagar os colaboradores. Apesar do reconhecimento da Coar e de sua importância, ela ainda enfrenta dificuldade para encontrar financiadores.

“O que fez a gente retomar foi o fato de conseguirmos um edital agora, que é um respiro, mas que ainda assim não é suficiente. Confesso que estamos voltando aos poucos, mas eu ando muito cansada, doente fisicamente também. É muito complicado liderar um projeto independente. Deveriam existir editais que se preocupassem com a saúde mental dos líderes, porque é difícil liderar, principalmente quando você lidera sozinha e pede ajuda várias vezes dizendo que o projeto é importante. Muitas vezes a Coar é citada como referência, e eu acho isso contraditório. Para mim, referência não é só uma citação. Referência é ter condições de pagar as contas. Palavras de reconhecimento não pagam nossas contas, e isso é importante”, destaca.

Além da sobrecarga, não podemos esquecer o quanto pesa a questão regional. Organizações do eixo sul-sudeste costumam ser mais reconhecidas como referências no combate à desinformação, enquanto a Coar, do Piauí, tem que lutar por esse espaço.

“A gente já mostrou que tem capacidade para fazer assim como as outras. Não é desmerecendo, até porque elas são referências para a gente, mas, da mesma forma que existem organizações reconhecidas em outras regiões, acredito que a gente já chegou, sem ego, num patamar em que somos referência no que fazemos. As pessoas sentem o impacto do nosso projeto, e isso faz a gente entender que educação e jornalismo salvam vidas.”

Para o futuro, Marta aposta no potencial educacional da Coar: “Quando a gente chega às escolas, às comunidades, leva checagens e vai às rádios, eu vejo o impacto, vejo o quanto alcançamos pessoas. Acredito que vamos ampliar nesse sentido nos próximos anos: focar em letramento midiático, linguagem regional e treinamentos.”

Você pode contribuir para que esse plano saia do papel. Envie um pix de qualquer valor para coarnews@gmail.com.

As Cunhãs: cinco anos no ar

Hoje o podcast é um formato consolidado de consumo de notícias e análises. As Cunhãs são três jornalistas: Inês Aparecida, Hébely Rebouças e Kamila Fernandes. Elas se juntaram em 2020, numa mistura de informações com humor e senso crítico, cumprindo o papel de noticiar, analisar e organizar o que está circulando na política do Ceará e do Brasil.

Cinco anos fazendo esse trabalho é surpreendente. Voltando ao nosso levantamento, de 2020 para cá, apenas 6 dos 29 podcasts cadastrados no Mapa Cajueira, desconsiderando os seriados por temporadas, seguem com frequência de episódios.

“Sem dúvida nenhuma, a maior dificuldade para manter um podcast independente no ar é financiamento. Começar não é tão difícil: você tem uma ideia, começa a gravar, com equipamentos básicos, já é possível fazer muita coisa. Mas manter depois, diante da falta de recursos e de espaços para ter uma mínima sustentabilidade, não diria nem completamente, mas conseguir alguma renda que complemente a sua própria renda alternativa, é muito difícil mesmo”, conta Kamila Fernandes.

Algumas mídias conseguem se estruturar melhor porque são vinculadas a grupos econômicos com recursos, como observa Kamila. Veículos de grande porte mantêm podcasts dentro de seus planos de negócios, com equipes próprias e outras fontes de receita para compensar os custos. No caso d’As Cunhãs, isso não acontece.

“A gente só consegue se manter porque temos outras rendas pessoais que garantem nossa sobrevivência. Desde o começo sabíamos disso, nunca dependemos do podcast para viver, mas ao mesmo tempo é desgastante. Você consome um tempo da vida, mas não tem retorno financeiro, e passa pela cabeça muitas vezes de acabar. É algo que desgasta, que realmente você investe tempo. Acho que a maioria se esbarra nessa dificuldade e por isso interrompe”, destaca Kamila.

Para apoiar As Cunhãs, assine a campanha de financiamento. Ah, e para quem doar a partir de R$ 10, ganha um episódio exclusivo por mês!

Eufêmea: jornalismo com recorte de gênero

Com cinco anos de existência, a Eufêmea é a primeira agência de jornalismo de Alagoas com foco em conteúdo feminino. A equipe é pequena, formada por mulheres jornalistas e comunicadoras que acreditam no poder da informação para educar e transformar.

Ainda que veículos com recortes (de gênero, território ou etnia) conquistem engajamento qualificado, eles enfrentam dificuldades para atingir audiências maiores e atrair patrocínios institucionais. Mesmo diante desse cenário, a equipe da Eufêmea não arreda o pé, como afirma a fundadora e diretora de jornalismo Raíssa França:

“Escolher manter um recorte de gênero no jornalismo independente, ainda mais no Nordeste, é um ato político e de resistência. Desde o início, sabíamos que não queríamos ser apenas mais um portal de notícias: queríamos ser um espaço que reconta as histórias sob a perspectiva feminina, mostrando as mulheres como protagonistas, não como coadjuvantes. O desafio é duplo: por um lado, o mercado de comunicação ainda é muito concentrado e tem pouca valorização do jornalismo local; por outro, o jornalismo com viés de gênero enfrenta resistência e até deslegitimação por parte de quem não entende sua importância”, conta.

O apoio financeiro que a Eufêmea recebe hoje é direcionado principalmente à produção jornalística e manutenção da equipe: pagamento de colaboradoras, impostos, hospedagem do site, redes sociais e estrutura básica de funcionamento.

“Com um maior suporte, poderíamos ampliar a cobertura, investir em novos formatos de conteúdo (como séries audiovisuais e podcasts), oferecer formação para jovens comunicadoras e fortalecer o Eufêmea como referência regional em jornalismo com perspectiva de gênero”, comenta Raíssa.

Bora tornar isso possível? Para apoiar a Eufêmea, assine a campanha no catarse, com valores a partir de R$ 10 mensais.

A independência se fortalece na coletividade

Na Cajueira não é diferente, estamos há 5 anos fazendo esse projeto na força da coletividade e na missão de fortalecer o jornalismo independente nordestino. Muita gente já nos conhece, reconhece, elogia, utiliza nossos conteúdos, mas poucos devem saber que não somos remuneradas, não temos sustentabilidade, mesmo sabendo da importância que tem esse projeto.

Já ganhamos alguns editais para desenvolver a plataforma da Rede Cajueira, o podcast Sertão do Futuro, mas não temos recurso institucional e nem orçamento para continuarmos em 2026. Já pensamos diversas vezes em pausar, já tivemos que reduzir quantidade de conteúdos, e nos desdobramos para dar conta de seguir sem dinheiro. Se nada mudar, a Cajueira também terá que se encerrar, ainda que a gente lute muito contra isso. Por isso, não deixe de contribuir com o que nós, jornalistas independentes, nos esforçamos diariamente para entregar à sociedade. Acreditamos muito que somente unidos, nos apoiando, sendo rede e coletivo, conseguimos caminhar.

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