O céu atrás de Nêgo Bispo estava entre o azul e o rosa àquela tarde, quando começamos a conversar. Nosso encontro aconteceu pelo aplicativo meet e ele falava na varanda da casa da filha – “Aqui a internet é melhor” –, no Quilombo Saco-Curtume, onde mora, a cerca de 450 quilômetros de Teresina, capital do Piauí.
Nêgo Bispo se registrou sozinho, aos 12 anos de idade, como Antônio Bispo dos Santos. Quando perguntaram o nome de seu pai, separado da mãe Pedrina Maria de Jesus desde que o menino tinha sete anos, ele diz que imaginou chamar-se Manoel Bispo dos Santos. “No cartório, foram me fazendo perguntas e pufo: me registrei!”. Somente 20 anos depois o pai de Antônio Bispo se registra e escolhe um nome diferente: Manoel Bispo Chaves. “Deixa eu dizer uma coisa engraçada: institucionalmente, eu não tenho pai”.
O codinome Nêgo surgiu no movimento sindical e, em 2007, quando lança seu primeiro livro, Quilombos: Modos e significados, ele assina Nêgo Bispo. “Eu gostei do nome Nêgo”. Essa é a primeira história que nos conta o ex-sindicalista e um dos nomes de maior expressão nacional no movimento quilombola e movimentos de luta pela terra. Bom de papo, muitas outras narrativas trazem vestígios dos aprendizados nos quilombos: parecem fábulas, muitas vezes recorrendo a animais para sugerir ensinamentos.