Oiê, tudo bem?
Aqui é Mariama Correia, cofundadora da Cajueira e hoje vou falar de futebol. Aliás, de futebol nordestino. Tu torce pra algum time de futebol do Nordeste? Se sim, então comemore porque a fase é boa. Pela primeira vez, temos a chance de ter 25% dos times na Série A do Campeonato Brasileiro do Nordeste, com cinco clubes da região: Sport, Ceará, Bahia, Fortaleza e Vitória.
Se a matemática não atrapalhar, 2025 vai ser o ano do futebol do Nordeste! Tô tão empolgada com os acessos que fui falar com um especialista para entender melhor o que podemos esperar. O amapaense Cássio Zírpolli, radicado em Pernambuco, é um dos melhores jornalistas esportivos que conheço. Ele é craque em analisar dados.
Então eu, que sou a torcedora mais fuleira do Sport Clube do Recife, perguntei para Cássio sobre nossas chances e o significado dessas conquistas para o futebol nordestino. Também pedi previsões dele para o próximo ano (não vou apostar em bet, tô apenas decidindo se invisto numa camisa nova do Leão ou numa com patrocínio de banda de forró). Confira a entrevista completa e aposte no time da Cajueira ajudando a gente na campanha Plantio e/ou no pix cajueira.ne@gmail.com.
Um cheiro!
O que podemos esperar dos clubes nordestinos na série A do Brasileirão? Dá pra encarnar uma mãe Diná e fazer previsões para o próximo ano?
Sem ser mãe Diná dá pra dizer que, se os cinco se confirmarem na Série A, pelo menos um clube vai estar em 2026, porque com esse com cinco já têm a garantia que o Nordeste estará presente na primeira divisão, pelo menos já daqui a dois anos. Sobre os cinco times, é um campeonato muito difícil o brasileiro e, nos últimos anos, ele tem tido um crescimento exponencial em relação ao investimento, fazendo com que as folhas dos times cheguem a valores inimagináveis. Mas tendo preparação, dá para fazer um campeonato seguro.
O Fortaleza deve continuar brigando para ficar na parte de cima da tabela e tentar a Libertadores. O Vitória fica mais ou menos na zona intermediária. Ceará e Sport, por estarem saindo da série B, uma transição sempre muito difícil, imagino que o primeiro ano seja um ano de permanência, sendo já um feito importante.
Explica o que pode representar a presença de cinco times nordestinos na Série A para o futebol da região?
A disputa em pontos corridos vai chegar a 23 anos em 2025 e nesse tempo todo nunca tinha tido cinco clubes do Nordeste. Já chegou a ter numa época que o campeonato tinha 24 times, hoje são 20. Em 2004 teve apenas um time do Nordeste, o Vitória – um de 24. Isso dá 4% de representatividade e agora esse percentual vai ser de 25%, um quarto do campeonato. Vai representar um crescimento que se viu com a Copa do Nordeste, com a questão estrutural dos clubes com arenas, com novos centros de treinamento. Então, assim é muito gratificante. Chegou a ter quatro anos seguidos com quatro times e sempre aconteceu alguma coisa. Alguém caía, alguém não subia. Dessa vez está dando tudo certo para chegar a essa quebra de recorde.
Tu acredita que o futebol do Nordeste é desvalorizado? Você acha que isso tem alguma relação com a concentração da mídia no eixo RJ-SP-BSB?
De forma geral a comunicação é muito concentrada em São Paulo e no Rio de Janeiro, seja para a ordem política e ordem econômica. Não seria diferente com o esporte, só que assim como existem fatores econômicos e políticos e sociais muito importantes em outras regiões e sobretudo no Nordeste, porque os cinco clubes que devem disputar a primeira divisão de 2025, todos eles têm pelo menos um milhão de torcedores.
Aliás, um milhão de torcedores é até modesto. Tem pelo menos um milhão e meio, dois milhões de torcedores, é o que aponta todas as pesquisas, já que eles teriam 1% da preferência nacional pelo menos cada um. É muita gente para você ser relegado na cobertura durante tanto tempo. Eu acho que já foi desvalorizado, hoje eu acho que é subvalorizado, porque você não tem como ignorar um quarto da competição.
O que tu acha que precisa mudar na cobertura esportiva no Nordeste?
Se for de outros centros em relação ao Nordeste, acho que uma maior quantidade de cobertura diária. Se for do Nordeste, aí acho que tá pau a pau. Os clubes principais têm 15 matérias por dia. Tem análise de qualquer contratação, daquele jogador que talvez seja contratado. Mas nos últimos tempos, muitos veículos começaram a fazer algumas viagens pontuais para ver, por exemplo, o Bahia jogar em Porto Alegre, faz uma cobertura pelo Youtube, tem muitos acessos.
O fato de existir o Premiere [canal esportivo], que hoje transmite também todos os jogos, acho que é um facilitador, porque querendo ou não, você tem acesso ao jogo, você consegue analisar o jogo vendo, pelo menos pela TV. Em algum tempo, que já está no passado, muitas pessoas não tiveram acesso a TV. Ou você estava no estádio ou você torcia para raramente passar na televisão e ficava no rádio, muitas pessoas eram só no rádio, não conseguiam visualizar o jogo. Então, hoje a cobertura da análise da partida está ao alcance de qualquer pessoa, não só no Brasil. Nos Estados Unidos o cara consegue acompanhar todos os jogos do Náutico, todos os jogos do Ceará, todos os jogos do Fortaleza, há 20 anos não era assim.
Que veículos fazem uma boa cobertura dos clubes nordestinos e do esporte nordestino?
Eu vou vender meu peixe aqui. Tem o podcast 45 do qual faço parte há dez anos, tem também o site. O GE (Globo Esporte) tem uma cobertura de todos os estados que acho muito importante. Acho que existe um novo momento de um conteúdo cada vez mais segmentado. Hoje tem o cara que fala só de clube, canais que falam só do Fortaleza, só do Sport, do Bahia, do Náutico. Tem os videocasts. Eu gosto de lembrar sempre que isso tudo vem da tecnologia, mas também de uma sede de todo mundo, da falta de conteúdo que existia durante tanto tempo. Grandes grupos de comunicação deixaram essa brecha durante tanto tempo e alguém foi lá e ocupou.
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