Hi, my name is Mariama!
Pode sossegar, que a Cajueira não virou gringa. A pegadinha do inglês é só pra você entrar no clima desta edição sobre versões icônicas do forró para hits internacionais.
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Se tu és Nordestiny’s Child, certamente concorda comigo que o forró sempre melhorou as músicas da gringolândia. Tem como não amar o fato de que “Without You”, gravada por Mariah Carey, virou “Paulinha” na versão de Calcinha Preta? E que a melosa “Because of you”, de Kelly Clarkson, se tornou “Meu Anjo Azul”, na leitura de Gatinha Manhosa?
O universo “forró version” tem correspondentes sanfonadas para praticamente todos os hits pops e sucessos internacionais. Aliás, quem são Rihanna, Beyoncé e Lady Gaga perto da diva pop Solange Almeida, nossa Solanja, que serviu algumas das melhores versões? Sol transformou “Umbrella” em “Se não valorizar”, que estourou nos shows de Aviões do Forró e se tornou um clássico instantâneo.
O fato é que as versões do forró – assim como as do brega, do sertanejo – surgem e viralizam numa velocidade impressionante e, no Nordeste, algumas se tornam até mais populares do que as músicas originais. É difícil dizer quando esse fenômeno começou, mas ele se consolida ali pelos anos 90, com o sucesso das bandas de forró eletrônico, explica o jornalista e pesquisador GG Albuquerque (@euamogg).
“O forró não foi o pioneiro nisso. A Jovem Guarda já fazia bastante essas versões, mas certamente o forró usou como uma prática constante”, diz. “No forró, você grava um álbum e fica fazendo turnê dele, tem que ficar atualizando seu repertório todo mês para dar conta do gosto do público e das novidades. Então, está ligado com essa dinâmica do consumo”, acrescenta.
Ele cita a banda Calcinha Preta como uma das mais icônicas na produção de versões. De fato, nossa amada Black Panties já produziu hinos como “Agora estou sofrendo”, a versão de “Bleeding Heart” da banda de metal brasileiro Angra. “Não é um cover, é uma versão de uma banda de heavy metal e isso é muito emblemático de como o forró consegue remixar as coisas e as tropicalizar”, comenta GG.
A versão fez tanto sucesso que conseguiu unir dois mundos. É comum ouvir o público cantando “não há amor para mim não, você estava mentindo…” quando Angra toca Bleeding Heart pelo Nordeste. Em 2020, o heavy metal se curvou ao forró, quando Edu Falaschi, o ex-vocalista do Angra, convidou Daniel Diau, cantor de Calcinha Preta para uma participação no show da banda, no Recife. Mas peraí que essa história melhora.
Em 2023, a paz mundial entre roqueiros e calcinheiros foi selada quando Falaschi foi o convidado especial da gravação do DVD de Calcinha Preta, “Atemporal”, em Salvador. Ele e Daniel cantaram os versos em inglês e em português, para delírio da multidão.
Quem não acha que esse foi um dos pontos máximos da música brasileira tá achando errado! Inclusive, vale toda uma análise sobre as proximidades da estética forrozeira e metaleira, mas isso já é outro papo.
E não dá para terminar esta edição sem falar de Forrozão Tropikália. “Planeta de Cores” é uma das minhas versões preferidas. Ela teria surgido durante uma turnê, quando o cantor e compositor da banda, Carlinhos Gabriel, ouviu ocasionalmente a italiana Laura Pausini cantar “Ascolta il Tuo Cuore”, junto com o cantor Eros Ramazotti. Só que Carlinhos produziu uma versão tão melhor do que a original, que ela virou uma espécie de hino LGBQTIA+ nordestino. A música, gravada em 2003, foi recentemente regravada pela Pabllo Vittar no álbum Batidão Tropical, junto com Carlinhos e Mara Pavanelly.
Para GG Albuquerque, as melhores versões são aquelas que trazem algo novo, como “Planeta de Cores”, ou seja, as que não mantêm muito compromisso com a música original. “Eles não pensam em traduzir aquilo ali. Eles estão mais pegando uma melodia, um ritmo vez outra, alguma palavra assim, mas estão pensando em criar algo novo a partir disso e aí acabam, de certa forma, até desrespeitando, digamos assim, essa música original. Acho que tem uma liberdade muito legal nisso”, comenta.
Ele usa como exemplo a banda Forró Estourado, que fez uma versão de Come as you are, de Nirvana. E, logo no começo da música, o vocalista avisa: “Porque aqui ninguém copia, a gente faz”. O pesquisador também lista outros sucessos como “Meu Grande amor” da Forrozão Babyson, que melhorou e muito a original pressão baixa “You are my love”, da Liverpool Express.
Ou seja, os forrós não são meras imitações, mas verdadeiras versões brasileiras: “São as conexões com outros gêneros musicais”, diz GG. “Mesmo que se adapte para forró, ainda contém um DNA dessa outra musicalidade que é, muitas vezes, nova para o público e que é interessante. Soa fresca e inovadora de alguma forma”.
E tu, quais são as tuas versões forrozeiras preferidas? Conta pra gente lá nas redes sociais!
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